quarta-feira, 16 de julho de 2014

Ferro e Fogo



O sangue que me corre às veias, não é sangue
O ar que me invade como lança, não é ar
A água que bebo, o som que ouço, a cor que vejo
Não são água, som ou cor

Corre-me pelas veias lava, incadescente
Como que num vulcão esperando
O ponto exato da ebulição
O jorro certeiro do ferro em fogo

Este ar é chama, é labareda
Que, sem intervalo sequer a sustentar,
Me corrompe pulmões e alma
Enegrecendo, com pressa, sem calma
Até o suspiro das cinzas que expiro

A água é aço líquido e turvo
E endurece todo o livre espírito
Que antes pairava, flutuante
Sonhador das simples coisas do amar

Cor, arco iris, flor, paisagem
São palavras, letras, símbolos.
Hoje, a ausência de cor torna-me negra
Sêca de toda paleta vibrante que antes
Vivia por respirar

E não há salvo-conduto nesse trecho de vida
Pois perco-me sem passagem, sem caminhos
Sem destino, sem carinho
Sem luar, sem violão...

Como miragem, atinjo seus olhos
E busco com os meus um alívio às dores
Que ainda carrego sobre os ombros pesados.
E eles desviam, solenes, descrentes
Como a murmurar caprichos indecifráveis.

Percebo o muro que se fecha em ferro e fogo
Lacrando o que não se começa
O que não se apressa
O que sequer existiu:
A Promessa da Vida que não se cumpriu.

Volto ao luto por minha lucidez
Para que se corra sangue, ar, água, som e cor.
No dourado escrínio de minhas lembranças.

Sabedora que sou de minha força e grito

Vejo reerguer-me vagarosamente
Silenciosa e tristemente
Novamente em busca de mim.

Um comentário:

  1. Há uma lava, um sangue tortuoso, sinuoso, fervente aí dentro, lavando e rompendo tudo, Ana. Que poema forte... ferveu aqui rs rs. Parabéns, amiga. beijos.

    ResponderExcluir

Deixe suas palavras aqui... (mas por favor, sem ctrl c ctrl v :D)

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Ferro e Fogo



O sangue que me corre às veias, não é sangue
O ar que me invade como lança, não é ar
A água que bebo, o som que ouço, a cor que vejo
Não são água, som ou cor

Corre-me pelas veias lava, incadescente
Como que num vulcão esperando
O ponto exato da ebulição
O jorro certeiro do ferro em fogo

Este ar é chama, é labareda
Que, sem intervalo sequer a sustentar,
Me corrompe pulmões e alma
Enegrecendo, com pressa, sem calma
Até o suspiro das cinzas que expiro

A água é aço líquido e turvo
E endurece todo o livre espírito
Que antes pairava, flutuante
Sonhador das simples coisas do amar

Cor, arco iris, flor, paisagem
São palavras, letras, símbolos.
Hoje, a ausência de cor torna-me negra
Sêca de toda paleta vibrante que antes
Vivia por respirar

E não há salvo-conduto nesse trecho de vida
Pois perco-me sem passagem, sem caminhos
Sem destino, sem carinho
Sem luar, sem violão...

Como miragem, atinjo seus olhos
E busco com os meus um alívio às dores
Que ainda carrego sobre os ombros pesados.
E eles desviam, solenes, descrentes
Como a murmurar caprichos indecifráveis.

Percebo o muro que se fecha em ferro e fogo
Lacrando o que não se começa
O que não se apressa
O que sequer existiu:
A Promessa da Vida que não se cumpriu.

Volto ao luto por minha lucidez
Para que se corra sangue, ar, água, som e cor.
No dourado escrínio de minhas lembranças.

Sabedora que sou de minha força e grito

Vejo reerguer-me vagarosamente
Silenciosa e tristemente
Novamente em busca de mim.

Um comentário:

  1. Há uma lava, um sangue tortuoso, sinuoso, fervente aí dentro, lavando e rompendo tudo, Ana. Que poema forte... ferveu aqui rs rs. Parabéns, amiga. beijos.

    ResponderExcluir

Deixe suas palavras aqui... (mas por favor, sem ctrl c ctrl v :D)