sábado, 1 de março de 2014

Entrelinhas





Entre linhas, entre palavras, entre sonhos que desfazem
Está a delicadeza, de cada ponto, cada nó

Não é saber desígnios metafóricos, 

nem não ditos, nem mal falados
Não são informações pendentes
De uma língua decadente, pletórica, insuficiente.

Tambem não é o não-dizer, o não-falar, o esconder
O jogo de rato e gato, que se revela ao morrer
É simples sugestão, muitas vezes prosaica, simples
Mas que revela enfim o espaço

que entre elas havia.
(entre elas, as tais linhas,
essas finas parasitas
moradoras da folha em branco
do poeta já cansado
de tanto entreter o amado) 

Escava-se o poema, a gravura, o cinema
Cavuca-se o livro tosco, a cantora a enganar
Fuxica-se cada fímbria da arte do ser
Procurando uma função
Para desde o riso da Mona
o Papa sem religião
o Dante, inferno ou céu
a proclamar solidão 
até achar um sentido, algum valor escondido
para se entender que as vezes
as entrelinhas são só
uma forma de expurgar
o que nos há de pior:
Sem ferir ou machucar
Sem doer, ou enganar.

Um famoso nosso ‘jeitinho’
Daqueles bem com carinho
que diga: Deixa pra lá,
essa quadra é somente minha
a para quem o encaixar.

Deixemos na contramão
de quem procura o óbvio ou o claro...
Deixe-os com seu fino faro
A tentar sem conseguir.

Enquanto isso fico aqui
com linhas, agulhas, dedais
a proclamar entrelinhas
que com fogo e fel construí.

Sabedora de meu destino
Que é o voltar-me á concha
Inquilina, Clandestina
da minha alma que esconde
as silenciosas gotas salgadas
Que, não sei, brotam dos cantos

Do que se chamam de olhos:
Espelhos de fraco alicerce
Que a entrelinha tece.

2 comentários:

  1. A sede da palavra move quem escreve. As entrelinhas não são nossas, o texto a partir do momento em que é feito não nos pertence mais. A palavra é vida e nem sempre o que escrevemos é que havíamos deixado escrito.
    Fico feliz com seu retorno.
    Abraços.

    ResponderExcluir
  2. E nas entrelinhas...muita coisa ficou por dizer ou, pelo contrário, muita coisa foi dita !!
    E com linhas teceste um poema que pode ser um bordado do teu coração ou ( e eu penso que sim) uma crítica social... Palavra por palavra...o conteúdo , foi poderoso!!
    Eu voltei ao meu blogue de pois de uma grande ausência mas, estou feliz por ter voltado e poder ler tanta coisa bonita que as minhas amigas escrevem...
    Parabéns,ANA!
    Um beijo.
    Graça

    ResponderExcluir

Deixe suas palavras aqui... (mas por favor, sem ctrl c ctrl v :D)

sábado, 1 de março de 2014

Entrelinhas





Entre linhas, entre palavras, entre sonhos que desfazem
Está a delicadeza, de cada ponto, cada nó

Não é saber desígnios metafóricos, 

nem não ditos, nem mal falados
Não são informações pendentes
De uma língua decadente, pletórica, insuficiente.

Tambem não é o não-dizer, o não-falar, o esconder
O jogo de rato e gato, que se revela ao morrer
É simples sugestão, muitas vezes prosaica, simples
Mas que revela enfim o espaço

que entre elas havia.
(entre elas, as tais linhas,
essas finas parasitas
moradoras da folha em branco
do poeta já cansado
de tanto entreter o amado) 

Escava-se o poema, a gravura, o cinema
Cavuca-se o livro tosco, a cantora a enganar
Fuxica-se cada fímbria da arte do ser
Procurando uma função
Para desde o riso da Mona
o Papa sem religião
o Dante, inferno ou céu
a proclamar solidão 
até achar um sentido, algum valor escondido
para se entender que as vezes
as entrelinhas são só
uma forma de expurgar
o que nos há de pior:
Sem ferir ou machucar
Sem doer, ou enganar.

Um famoso nosso ‘jeitinho’
Daqueles bem com carinho
que diga: Deixa pra lá,
essa quadra é somente minha
a para quem o encaixar.

Deixemos na contramão
de quem procura o óbvio ou o claro...
Deixe-os com seu fino faro
A tentar sem conseguir.

Enquanto isso fico aqui
com linhas, agulhas, dedais
a proclamar entrelinhas
que com fogo e fel construí.

Sabedora de meu destino
Que é o voltar-me á concha
Inquilina, Clandestina
da minha alma que esconde
as silenciosas gotas salgadas
Que, não sei, brotam dos cantos

Do que se chamam de olhos:
Espelhos de fraco alicerce
Que a entrelinha tece.

2 comentários:

  1. A sede da palavra move quem escreve. As entrelinhas não são nossas, o texto a partir do momento em que é feito não nos pertence mais. A palavra é vida e nem sempre o que escrevemos é que havíamos deixado escrito.
    Fico feliz com seu retorno.
    Abraços.

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  2. E nas entrelinhas...muita coisa ficou por dizer ou, pelo contrário, muita coisa foi dita !!
    E com linhas teceste um poema que pode ser um bordado do teu coração ou ( e eu penso que sim) uma crítica social... Palavra por palavra...o conteúdo , foi poderoso!!
    Eu voltei ao meu blogue de pois de uma grande ausência mas, estou feliz por ter voltado e poder ler tanta coisa bonita que as minhas amigas escrevem...
    Parabéns,ANA!
    Um beijo.
    Graça

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