Não é saber desígnios metafóricos,
nem não ditos, nem mal falados
Não são informações pendentes
O jogo de rato e gato, que se revela ao morrer
É simples sugestão, muitas vezes prosaica, simples
Mas que revela enfim o espaço
que entre elas havia.
(entre elas, as tais linhas,
essas finas parasitas
moradoras da folha em branco
do poeta já cansado
de tanto entreter o amado)
Escava-se o poema, a gravura, o cinema
Cavuca-se o livro tosco, a cantora a enganar
Fuxica-se cada fímbria da arte do ser
Procurando uma função
Para desde o riso da Mona
o Papa sem religião
o Dante, inferno ou céu
a proclamar solidão
as entrelinhas são só
uma forma de expurgar
o que nos há de pior:
Sem ferir ou machucar
Um famoso nosso ‘jeitinho’
que diga: Deixa pra lá,
essa quadra é somente minha
a para quem o encaixar.
Deixemos na contramão
de quem procura o óbvio ou o claro...
Deixe-os com seu fino faro
A tentar sem conseguir.
Enquanto isso fico aqui
com linhas, agulhas, dedais
a proclamar entrelinhas
que com fogo e fel construí.
Sabedora de meu destino
Que é o voltar-me á concha
Inquilina, Clandestina
da minha alma que esconde
as silenciosas gotas salgadas
Que, não sei, brotam dos cantos
Do que se chamam de olhos:
Espelhos de fraco alicerce
Que a entrelinha tece.
A sede da palavra move quem escreve. As entrelinhas não são nossas, o texto a partir do momento em que é feito não nos pertence mais. A palavra é vida e nem sempre o que escrevemos é que havíamos deixado escrito.
ResponderExcluirFico feliz com seu retorno.
Abraços.
E nas entrelinhas...muita coisa ficou por dizer ou, pelo contrário, muita coisa foi dita !!
ResponderExcluirE com linhas teceste um poema que pode ser um bordado do teu coração ou ( e eu penso que sim) uma crítica social... Palavra por palavra...o conteúdo , foi poderoso!!
Eu voltei ao meu blogue de pois de uma grande ausência mas, estou feliz por ter voltado e poder ler tanta coisa bonita que as minhas amigas escrevem...
Parabéns,ANA!
Um beijo.
Graça